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BL Press 2005
Texto de valter hugo mãe Outubro 2005 5 Anos de Atenção O trabalho de um projecto como a Bor Land é de valor inestimável para a cena musical portuguesa. Por consubstanciar o mais coerente universo editorial, garantindo a publicação de alguns dos mais consensuais e celebrados nomes da vanguarda nacional. Talvez não fosse, há anos, esperado um trabalho assim, tão arreigado na qualidade e na obediência aos propósitos dos artistas, mais do que na estratégia comercial. Se é possível considerar que, por todos os motivos, este é um projecto de risco, é também vital entender que, reunidas as sinergias necessárias e revelando-se o espírito dos responsáveis tão obstinado quanto estes 6 anos de existência o provam, se afigura pouco provável que, num futuro próximo, outros colmatem a lacuna difícil que a Bor Land tem conseguido, a pulso, colmatar. Estamos a falar de um universo de artistas já vasto que, numa liberdade formal absoluta, se vêm impondo como do melhor que se faz numa certa erudição estética seguida como um modo superior de encarar a música dita popular, fazendo com que esta encontre espaços carismáticos, lugares de propriedade única, em que a assinatura sobressaia por tudo quanto traz de inusitado, original e inteligentemente esdrúxulo. Não se trata de um caso de albergue de manifestações disparatadas, tendentes as mais das vezes a sustentar egos, trata-se, muito claramente, de uma casa para artistas novos acusando uma maturidade invejável onde – ao que a crítica especializada considera –, se pode notar boa parte dos mais sérios músicos de hoje, paulatinamente caminhando para uma popularização e consagração que, indubitavelmente, ocorrerá mais tarde ou mais cedo. A Bor Land, editora, não se esgota no estrito conceito de uma empresa que oferece um determinado produto, antes se compõe do que pode justificar, em todo o tempo, o sucesso prolongado de um projecto: o afecto, que é como quem diz, a vontade que um grupo de pessoas – cada vez mais extenso – tem de fazer parte do seu elenco de colaboradores. Isto consegue-se por toda uma dinamização paralela, ou acessória, que advém do empenho e intenso entusiasmo, que passa pelo agenciamento das suas bandas para concertos um pouco por toda a parte, marcando presença nas melhores salas e festivais de música do país, sempre acompanhando o evento com a venda directa do merchandizing produzido pela marca Bor Land, bem como estabelecendo o melhor e mais eficaz contacto com o público alvo dos seus produtos, naturalmente constituindo a plateia de cada concerto. É muito complexa toda a obra que se dirija à revelação de novos valores ou faça desta premissa uma área fundamental da sua actividade. Quer porque é demasiado subjectiva a escolha daquilo que deve sair do anonimato, perante aquilo que nele se deixa precipitar no esquecimento, quer porque a viabilização económica de um novo nome – e mesmo que comporte um bom sucesso crítico – é sempre esmagadoramente difícil. A aposta nos desconhecidos de grande valor justifica-se pela natureza da arte, mas são verdadeiramente poucas as casas editoras dispostas a este risco e, sobretudo, à extenuante tarefa de promover um nome. Vencer o anonimato, passando de inúmeras maneiras a marca que se quer dar a conhecer, exige um esforço e uma persistência consideráveis, e isto porque falamos de música que se faz para ter qualidade, nunca para se despir conceptualmente ao ponto de valer apenas como pastiche popular para consumo despreocupado e efémero. Neste aspecto, é preciso entender que não estamos perante um rol de músicos que se comportem como sucedâneos de outros, não pretendem parecer ou substituir-se a outros. Trazem uma formatação própria que, como todas as coisas que se aproximam do ideal da diferença, consumam a surpresa que, as mais das vezes, se reflecte num estranhamento pouco hábil do grande público. Perante o desconhecido o grande público estranha, ao invés de se maravilhar, como querem fazer crer os contos fantásticos e os filmes mais sonhadores. Assim, é um facto que, apresentando a Bor Land alguns dos mais vanguardistas músicos da nossa praça, o seu som deverá ser assimilado com alguma parcimónia pelo grande público, coisa que não faz destes músicos elitistas, mas que definitivamente relativiza a capacidade que o ouvinte comum tem de atempadamente tomar conhecimento do que de mais recente se cria. É em redutos de segurança estética, onde a liberdade criativa se liga ao bom gosto de quem tem a possibilidade de apostar ou não, que os músicos contemporâneos podem encontrar aqui um pólo de suporte. Há um entendimento claro entre quem produz um determinado som e procura uma certa atitude. A Bor Land será um projecto necessário por manifestar, na melhor das resoluções, o lugar de uma atitude, de editores e criadores, que se consubstancia na ideia chave de fazer música – que diremos, ainda assim, popular – estritamente como arte. Não é possível pensar nesta marca sem lembrar especificamente alguns dos seus projectos, e incidir sobretudo em Old Jerusalem parece justo por muito ter conseguido a melhor receptividade crítica vista em Portugal nos últimos anos. De facto, os seus dois longa-duração mereceram, por parte dos críticos mais severos a classificação de melhores discos nacionais do ano: April em 2003, e Twice The Humbling Sound, em 2005. A probabilidade de um mesmo projecto conseguir este aval da crítica com dois discos diferentes é mínima, pelo desgaste natural das formas, pelo desaparecimento do efeito surpresa, mas com Old Jerusalem, como com muito do que a Bor Land faz, sucede uma rendição clara à qualidade e inteligência do projecto. As magníficas gravações dos projectos Alla Polacca, Stowaways, The Unplayable Sofa Guitar, Complicado ou Bypass, por exemplo, são outros pontos de consenso, inegavelmente colocando a música portuguesa dignamente referenciada na vanguarda mesmo no plano internacional. Qualquer destes projectos tem merecido entrada nas listagens dos melhores do ano, estabelecendo um catálogo raro onde o nome da sua editora surge como uma impressionante garantia dada aos ouvintes. E, suportando cada dificuldade e sempre acreditando que melhores dias virão, a Bor Land recentemente apresentou mais pérolas, como a já há muito aguardada estreia em longa-duração dos The Astonishing Urbana Fall (agora reaparecendo com a designação La La La Resonance), a formação de Barcelos que fez furor ao vivo em meados dos anos 1990 e que foi, por bom tempo, agraciada com o mais arrebatador entusiasmo da crítica portuguesa. Há um grande mérito de conseguir, depois destes anos, garantir a edição de um longa-duração desta banda, porque se mostra que se está atento àquilo que verdadeiramente acontece de rompedor com a banalidade intensa que, discretamente, ocupa as nossas vidas como erva daninha num quintal. Acima de tudo, os músicos serão, de facto, quem melhor reconhecerá o empenho, esta disponibilidade genuína típica de quem corre atrás de um sonho mais do que atrás de um simples meio de ganhar a vida. A entrada neste catálogo de músicos consagrados justifica o que dizemos. Existe uma cada vez maior visibilidade do trabalho desenvolvido pela editora, acarretando, pela manifesta qualidade dos projectos envolvidos, uma maior abertura dos nomes já instituídos. Os casos de Carlos Bica, Alexandre Soares e Jorge Coelho servem para exemplificar o que dizemos, prestigiando a marca com registos de invulgar qualidade que se colocam entre os outros não como tutelares mas como entre pares porque, de facto, é isso que a Bor Land tem conseguido, catapultar para um prestigiante lugar os novos projectos em que, desde o início, aposta. Para mais muitos anos de boa música, mais muitos anos da Bor Land seria um método inteligente e seguro. |
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